Carlos Bernardes (*)
Confesso que na minha ignorância cristã, ainda não consegui discernir a força que essa ideia empreendeu e tomou de assalto líderes cristãos, muitos deles por mim admirados num passado recente. Essa ideia não caberia na mente de um cristão minimamente consciente, que em momentos sombrios da sua vida, como eu, foi capturado pelo modo de vida e simplicidade de Jesus e principalmente pela sua capacidade ímpar em acolher os rejeitados.
Foi assim com Zaqueu, homem que vivia as margens da sociedade pelo seu ímpeto corrupto no trato com impostos, com o ladrão da cruz, com Maria Madalena, com o soldado Malco e com o próprio Pedro que o negou por três vezes. As atitudes de Cristo sempre foram de respeitar as diferenças e com isso ganhar adeptos, foi assim com a mulher samaritana Mt. 4:1-30, foi assim com Maria Madalena. Ele é assim até hoje.
Quando a igreja deixa de ser INCLUSIVA e seus líderes estampam em suas atitudes uma fé EXCLUSIVISTA, onde o sacrifício de cristo passa a ser secundário e o que “deve” prevalecer é o princípio questionável da submissão a autoridade,
Neste caso aos líderes espirituais, muitos deles, movidos por interesses questionáveis e reprováveis, a fé redentora passa a ser PRIVILÉGIO apenas daqueles que pensam iguais e não a chance oportunizada “aos pecadores”, como disse Jesus em Marcos 2:17.
Quero dar um só exemplo dessa hipocrisia desconexa, sem expor nome, para não cometer os mesmos erros e cair em contradição. O apoio incondicional de muitos líderes a uma candidatura ao senado.
Que pautas defendem a maioria dos Bolsonaristas eleitos com expressivas votações? Deus? Muito genérico. A Pátria? Ela é de todos, todos na acepção da palavra. Família? Quem protege a família são os princípios e valores construídos como alicerce e aí, eu substituiria essa defesa por trabalho, saúde e educação, essas coisas sim, são condições que fazem uma família permanecer unida nos momentos mais difíceis.
O resto é apenas retórica, oportunismo sutil que induz uma massa intelectualmente ignávia e que por isso se tornou refém das suas próprias limitações.
Por fim, quero aqui manifestar a minha preocupação com o rumo que está tomando essa IDEIA ou moda. Na minha humilde concepção de crença, Deus é soberano, não precisa de ajuda e ponto final, porém a Sua maior expressão de respeito ao ser humano e que demonstra seu perfil democrático, é o livre-arbítrio.
Nenhuma oração alheia pode interferir nesse direito de escolha, se não, não seria escolha, mas imposição. “Deus é poderoso para fazer infinitamente mais daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Ef. 3:20)”.
A decisão está dentro de nós do que desejamos que Ele faça e ele usa quem quer, da forma que quer, para propósitos inimagináveis. Eu amo a Deus e até já o questionei nos meus erros, o porquê de tamanho direito, Ele não me respondeu, mas sempre me dá a chance de poder escolher recomeçar.
(*) Analista político