o Circo do Mato inicia o ano de 2025 com a estreia de “Ponto de Partida”. O espetáculo, que transcende barreiras geográficas e culturais, terá apresentações em Campo Grande e Salvador neste mês de janeiro.
Em Campo Grande, a sede da companhia recebe as apresentações nos dias 17, 18 e 19. Já na capital baiana, o espetáculo será itinerante, com sessões em três espaços culturais: Teatro Sesc Rio Vermelho (23), Teatro Sesc-Senac Pelourinho (24 e 25) e Casa Preta Espaço de Cultura (26).
Os ingressos serão trocados por doações de alimentos não perecíveis, fraldas geriátricas e materiais de higiene, que beneficiarão instituições sociais locais.
Dirigido por João Lima, com texto de Breno Moroni e atuação do artista Mauro Guimarães, “Ponto de Partida” transcende limites geográficos e temporais.
“Sem dar muito spoiler, mas é a história de um palhaço já idoso, vindo de família tradicional de circo, que está esperando uma carona de um contratante para sua última apresentação que não chega a acontecer. Este é o ponto de partida da narrativa, daí a escolha do nome do espetáculo”, explica o diretor que encarou a missão da montagem em meio a mais de 2 mil km de distância. “Moro em Salvador e este é o meu quinto espetáculo com direção um tanto remota, essa é a minha segunda vinda a Campo Grande. Na primeira, criamos o esqueleto da peça e, agora, cheguei para limpeza das cenas e, claro, a estreia”.
Em se tratando de ineditismo, “Ponto de Partida” é também o primeiro solo da Cia Circo do Mato, como destaca o ator Mauro Guimarães. “O Circo tem mais de 20 anos de existência, já tivemos espetáculos com 15 pessoas, 10, dois e por aí vai. Mas este é um projeto diferente, especial, porque é o primeiro solo do grupo”, diz.
Algo que também marca o artista individualmente por ser “o meu primeiro solo, apesar de décadas de profissão, é muita responsabilidade. Outra questão é que o meu palhaço não fala, é característico dele e nesta roupagem a gente tem o texto. Então, é algo novo, desafiador, porque diferente de um trabalho exclusivamente do teatro, em que a personagem é construída, na linguagem do circo, não, você traz o seu palhaço que é a sua persona circense, você pode moldá-la, mas continua sendo o mesmo palhaço só que em um outro contexto”.
O ingresso será um quilo de alimento não perecível que será revertido para instituições sociais. “Eles estão pedindo produtos de higiene pessoal e fraldas geriátricas, pensando em nossos idosos que atualmente são 20”, afirma Vilma Gomes, enfermeira responsável pela gestão da entidade Recanto Feliz que tem “satisfação em ver o olhar do Circo do Mato para a comunidade porque a arte tem esse olhar sensível e o espetáculo retrata justamente o lugar do idoso no mundo”.
Em uma viagem dramatúrgica assinada por Breno Moroni, o enredo busca ainda homenagear os palhaços de todo Brasil. “Acompanho a hierarquia do circo de lona onde o palhaço é o último estágio que alguém pode alcançar. Diferente do teatro-circo, em que você pode iniciar como palhaço, no circo tradicional você só se torna palhaço quando é muito velho e já foi mágico, equilibrista, malabarista”, pontua o Breno que na construção textual inspirou-se em palhaços icônicos.
“Tenho 40 anos de palhaçaria, sou artista antigo. Então, escrevi este texto em homenagem aos velhos palhaços com quem trabalhei, como Carequinha, do artista George Savalla, e o palhaço Picolino, com quem também estudei, fui discípulo”.
O espetáculo levou 10 anos para sair do papel, atravessando desafios em busca de fomentos e editais. O projeto foi aprovado em 2023 pela Funarte e, em 2024, um intenso processo de montagem foi iniciado de forma online, com encontros virtuais entre diretor e elenco, além de 20 encontros presenciais, em Campo Grande, para dar vida à obra. “Essa jornada deu ao espetáculo uma profundidade que reflete as nuances do tempo e da espera”, pontua João Lima, diretor da peça.
Mais do que um projeto de arte, “Ponto de Partida” é um diálogo entre culturas. O artista sul-mato-grossense Mauro Guimarães traz ao palco a essência do Centro-Oeste, enquanto a direção de João Lima e a dramaturgia de Breno Moroni acrescentam tons e texturas do Nordeste e do Sudeste, criando uma experiência universal e profundamente brasileira.
Dos bastidores, a produtora cultural do Circo do Mato, Laila Pulchério, lembra o quão desafiador e satisfatório é para um grupo de artistas estrear em sua casa tendo como certo outro ponto de partida, o aeroporto rumo a Salvador.
“É uma satisfação imensa e também um desafio! Já levamos espetáculos para outros estados, mas ainda são poucos comparado ao tamanho do País. Sempre refletimos sobre termos participado de festivais em 6 países, em alguns várias vezes, mas a dificuldade que é percorrer o Brasil. Essa possibilidade que a Funarte nos oportunizou está sendo muito especial, e o aceite dos espaços que vão nos receber em Salvador, nos deixou muito animados, vamos dar o nosso máximo”.
Fonte: Portal do MS