Gerusa Cella Puntel Ferreira (*)
Das coxilhas do Rio Grande do Sul para os vastos campos do Mato Grosso do Sul. Foi assim que a cultura gaúcha chegou por aqui, não por acaso, mas por uma grande leva de migrantes que, a partir dos anos 70, vieram em busca de novas terras para plantar e criar gado. E o que eles trouxeram na bagagem? Mais que sementes e gado, trouxeram a essência de sua terra, uma tradição que se enraizou e hoje faz parte do nosso dia a dia.
A influência mais visível e organizada dessa migração são os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs). Eles não são só clubes de dança; são verdadeiras embaixadas culturais. Nesses lugares, a memória e a identidade gaúcha são preservadas a cada roda de chimarrão, a cada churrasco e em cada passo de dança. É lá que a juventude aprende a importância da pilcha e do laço, garantindo que os costumes não se percam.
Em Campo Grande, por exemplo, o CTG Tropeiros da Querencia é um marco. Em Dourados, o CTG Querência do Sul mantém viva a tradição. E até mesmo em Rio Brilhante, o CTG Tropeiro Velho serve de ponto de encontro, de apoio e de celebração para a comunidade de gaúchos e seus descendentes.
Mas se os CTGs são a estrutura física, a música nativista é a alma dessa cultura. Foi a “trilha sonora” da migração, que trouxe na letra a saudade de casa e a esperança de um novo futuro. Canções como “Céu, Sol, Sul, Terra e Cor”, hino informal dos gaúchos, e “Canto Alegretense”, uma melodia que fala de orgulho regionalista, ressoaram forte nas fazendas e nas cidades sul-mato-grossenses. Elas serviram como um abraço musical, lembrando a todos de onde vieram, mesmo estando tão longe.
Artistas como Teixeirinha, Os Serranos e Os Monarcas se tornaram grandes nomes por aqui, com suas músicas narrando a vida no campo e os desafios da nova terra. A força da cultura gaúcha se provou na sua capacidade de se adaptar e de, ao mesmo tempo, influenciar o nosso próprio jeito de ser.
No fim das contas, a cultura gaúcha não apenas encontrou um lar em Mato Grosso do Sul; ela se tornou parte do nosso rico mosaico, provando que a tradição é algo que se leva no coração, para onde quer que o vento leve a gente.
(*) Encarregada de Dados Pessoais da Fundect