quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Fiocruz fecha acordo para produzir canetas emagrecedoras

Transferência de tecnologia da farmacêutica EMS vai permitir que Fundação desenvolva versão própria da semaglutida, abrindo caminho para uma possível incorporação ao SUS

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Ozempic: Fiocruz fecha acordo para produzir canetas emagrecedoras (Foto: FreePik)

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), anunciou um acordo com a farmacêutica EMS para a fabricação de versões próprias da liraglutida, princípio ativo do Saxenda, e da semaglutida, ingrediente do Ozempic e do Wegovy.

Os fármacos, indicados para tratar diabetes tipo 2 e obesidade, foram desenvolvidos pelo laboratório dinamarquês Novo Nordisk. No entanto, a patente da semaglutida já chegou ao fim, e a da semaglutida termina no ano que vem.

Os acordos assinados estabelecem a transferência da tecnologia usada para a síntese do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) e do medicamento final dos remédios para Farmanguinhos pela EMS. Até que toda a tecnologia de produção seja transferida para o Complexo Tecnológico de Medicamentos de Farmanguinhos, no Rio de Janeiro, a produção será realizada na fábrica da EMS em Hortolândia, São Paulo.

Em nota, a diretora de Farmanguinhos, Silvia Santos, diz que “a liraglutida e a semaglutida inauguram a estratégia da Fiocruz de se preparar também para a produção de medicamentos injetáveis, com a possibilidade de incorporação de uma nova forma farmacêutica”, e que o acordo “é mais uma ação para fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde”.

A parceria foi anunciada durante a terceira edição do Fórum Saúde, realizado em parceria entre o think tank, Esfera Brasil e a EMS. O evento aconteceu em Brasília nesta semana. Além de Silvia, a vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Priscila Ferraz, o presidente da EMS, Carlos Sanchez, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, estiveram presentes.

Assim como em outras ocasiões, Padilha reforçou que, se comprovado um custo-benefício, as canetas emagrecedoras, como ficaram conhecidos os medicamentos, poderão ser incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). A produção numa instituição pública, como a Fiocruz, facilita o processo por viabilizar custos menores para o governo.

Em publicação no Instagram após o evento, o ministro descreveu a medida como “um grande acordo” e anunciou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também vai fazer um chamado público para que “outras empresas que tenham produtos como esses possam correr para fazer registros”. O objetivo é acelerar a aprovação de novas canetas e “termos mais concorrência e produção nacional no país”.

A liraglutida e a semaglutida fazem parte da classe de medicamentos chamada de análogos de GLP-1, que simulam o hormônio GLP-1 no corpo humano. No pâncreas, essa interação estimula a produção de insulina, por isso o uso para diabetes. No estômago e no cérebro, os remédios reduzem a velocidade da digestão e ativam a sensação de saciedade, levando a uma menor ingestão de comida e à consequente perda de peso.

A liraglutida, presente no Saxenda, para obesidade, e no Victoza, para diabetes, foram os primeiros aprovados no Brasil. Em relação ao emagrecimento, o remédio foi considerado uma revolução ao levar a uma redução de, em média, 8% no número da balança após 56 semanas nos estudos. Fármacos anteriores não tinham uma eficácia tão relevante e causavam muitos efeitos colaterais.

Alguns anos depois, a Anvisa aprovou a semaglutida, do Wegovy, para obesidade, e do Ozempic, para diabetes. A molécula também foi desenvolvida pela Novo Nordisk, mas levou a uma perda de peso de peso significativamente maior (17,4% após 68 semanas) e demanda apenas uma injeção semanal, contra a diária no caso da liraglutida.

Em março deste ano, a patente da liraglutida chegou ao fim no Brasil, abrindo o caminho para que outras farmacêuticas começassem a vender versões genéricas e similares do Saxenda. É o caso do Olire, a primeira caneta emagrecedora nacional, lançada  nesta semana no mercado brasileiro pela EMS.

A partir de março do ano que vem, porém, a patente da semaglutida também chegará ao fim. Por isso, laboratórios como a EMS, e agora a Fiocruz, já se movimentam para trazer versões genéricas e similares do Wegovy e Ozempic ao país. A Novo Nordisk tenta estender a patente na Justiça, mas perdeu na primeira e na segunda instância. O caso está agora no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Fonte: Folha de Pernambuco

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