terça-feira, 26 de novembro de 2024

Janelle Monáe, lésbica e negra, diz querer usar voz contra preconceito

A cantora americana de 32 anos é parte das atrações da Red Bull Music Academy.

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Janelle Monáe (Foto: Reuters)

Notícias ao Minuto

 

 

Janelle Monáe (Foto: Reuters)

THIAGO NEY – Depois de dois discos que tinham como ponto de partida e inspiração o filme “Metrópolis”, de Fritz Lang, e nos quais assumia a identidade de uma androide, Janelle Monáe se despe de qualquer personagem em “Dirty Computer”, o mais recente álbum. Racismo, machismo e homofobia são alguns dos temas que percorrem as suas 14 músicas.

 

“As primeiras faixas mostram uma pessoa renegada. Depois, temos músicas mais de celebração. Já as quatro últimas são como uma afirmação”, disse Monáe, em Berlim.

 

A cantora americana de 32 anos é parte das atrações da Red Bull Music Academy, que começou no início de setembro e se estende até 12 de outubro na capital alemã. Às margens do rio Spree, o evento reúne 61 jovens músicos de 37 países, incluindo o Brasil, representado pelo DJ e produtor Benjamim Sallum.

 

Além de acesso a estúdios e equipamentos para produzir música, os participantes frequentam conversas e palestras de nomes como a DJ Nina Kraviz e a própria Monáe.

 

“Sou uma jovem americana lésbica e negra. Era importante criar uma experiência em que as pessoas que são marginalizadas possam sentir que não precisam mudar para serem aceitas pela sociedade”, disse a cantora. “Mesmo que o sistema não esteja funcionando ao meu favor, os Estados Unidos são o meu país, e estarão ao meu lado um dia.”

 

Esse sentimento está explícito na última faixa do álbum, “Americans”. Trecho: “Até que as mulheres ganhem o mesmo pelo mesmo trabalho / esta não é a minha América/ Até que as pessoas que amam gente do mesmo gênero possam ser quem realmente são / esta não é a minha América / Até que os pretos possam voltar para casa depois de serem parados pela polícia sem receberem um tiro na cabeça / esta não é a minha América […] / Mas eu vou te dizer hoje que o Diabo é um mentiroso / Porque vai ser a minha América antes que tudo termine”.

 

Monáe fala sobre a faixa: “A música não diz que a América é linda, chama a atenção para o monte de coisas erradas que estão acontecendo. Temos de consertar isso, e temos de consertar rápido, porque novas gerações estão chegando aí”.

 

Um detalhe que salta aos olhos (e ouvidos) em “Dirty Computer” é a quantidade de gente conhecida que está nos créditos, como Brian Wilson (dos Beach Boys), Pharrell Williams, Grimes e Prince, que estava ajudando Monáe no disco antes de morrer, em abril de 2016.

 

“É difícil falar quanto Prince significa para mim. Sem ele acho que esse disco não existiria, não iria saber até onde poderia ir. Ele era um gênio tocando guitarra, produzindo e também na parte de negócios”, afirma.

 

Sobre Brian Wilson, ela conta que, quando estava fazendo os vocais da música-título, podia ouvir a voz dele em sua cabeça. “Então, procuramos seu empresário. Ele foi muito legal, disse apenas: ‘Me manda a fita’. Sim, Brian ainda gosta de gravação em fita! Em pouco tempo me mandou de volta.”

 

Um dos principais momentos recentes de Monáe foi a participação na Marcha das Mulheres, em janeiro do ano passado, em Washington. Milhões de pessoas foram às ruas dos Estados Unidos para pedir mais direitos às mulheres, mudanças nas leis de imigração, racismo, entre outros temas.

 

Ela fez um discurso emocionante, em que se lembrou da avó, que teve 14 irmãos (“e eles dividiam um par de sapatos”) e da mãe, a caçula de 12 irmãos.

 

“Não imaginava que iria tanta gente, ninguém imaginava, na verdade. Então me pediram para subir ao palco e dizer algumas palavras. Quando subi e vi aquela multidão, fiquei tremendo, nervosa. Angela Davis [ativista e escritora] estava ali, assim como mães de meninos negros que tinham sido mortos pela polícia. Respirei e falei o que vinha do meu coração.”

 

Em 2016, Monáe atuou em dois filmes: “Moonlight” e “Estrelas Além do Tempo”. “Gostei da experiência porque em um filme você interpreta um personagem que está dentro de uma história. Em um disco, tudo tem a ver comigo: as letras, a guitarra, o clipe. Tudo está sob meu nome. Então sinto muito mais pressão. O mundo vai me julgar e eu posso estar passando por um momento frágil. Se você não está preparada, vai sofrer.” Com informações da Folhapress.

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