sábado, 23 de novembro de 2024

Lojas usam manequins “bombadas” para imitar corpos de academia

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Estadão

 

Antes longilíneas, as modelos agora exibem braços musculosos, pernas grossas e abdome definido (Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO)

 

A mudança do padrão de corpo idealizado por mulheres frequentadoras de academias chegou às vitrines de lojas. Não nas roupas, mas nas próprias manequins usadas para expor camisetas, tops e shorts. Antes longilíneas, as modelos agora exibem braços musculosos, pernas grossas e abdome definido.

 

“A vitrine estampa o que está nas ruas e no imaginário das mulheres”, reconhece Suyanne Delfino, gerente comercial da Expor Manequins, fábrica fornecedora de modelos para vitrines de pelo menos três marcas de roupas esportivas do País. “As marcas já perceberam. A consumidora quer que manequim seja reflexo de seu maior desejo: definição de músculos”, completa.

 

A adoção de manequins com corpo mais atlético, beirando o bombado, começou há dois anos, durante os preparativos para Copa do Mundo. A aposta nesse novo padrão ganhou força e se mantém, agora de olho nas Olimpíadas. As medidas de braços e pernas aos poucos foram aumentando. A cintura, antes muito fina, começou a ficar mais próxima daquela apresentada por mulheres que fazem regularmente atividade física.

 

A febre por um corpo muito musculoso deu lugar, agora, ao corpo atlético (Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO)

 

As medidas não são escolhidas ao acaso e refletem corpos de mulheres atletas, que são recrutadas como modelos. “Tudo é feito com scanner e impressora 3D”, diz. “As medidas são tiradas em várias posições, simulando práticas esportivas. Porque atualmente os manequins também não estão estáticos. São expostos nas lojas simulando a prática de exercícios físicos.”

 

A busca por um corpo mais atlético também é notada por preparadores físicos e nutricionistas. “O pedido número um das alunas era ficar magra. Agora é ficar forte”, diz o personal trainner Marco Maia. Num primeiro momento, a busca era exagerada. “Elas queriam coxas muito grandes, quase masculinas. Algo que dificilmente é possível alcançar naturalmente”, conta.

 

A febre por um corpo muito musculoso deu lugar, agora, ao corpo atlético. “É mais saudável, mais bonito”, diz Maia. O nutricionista Clayton Camargos concorda. “Encontramos agora o meio-termo, em que o mais importante não é seguir um padrão, mas alcançar saúde, harmonia no corpo”, afirma.

 

As próprias manequins usadas para expor camisetas, tops e shorts ganham curvas e músculos (Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO)

 

A mudança, refletida nas manequins exibidas em loja de esporte, sucede dois extremos considerados perigosos pelo nutricionista. O mais recente – e que, embora já esteja definhando, ainda é encontrado – das mulheres superlativas, com músculos e todas as medidas avantajadas. “Ele foi uma reação a outra onda igualmente perigosa, das mulheres muito magras, a beira de um quadro de anorexia”, recorda.

 

Maia conta que o esforço necessário para tentar convencer suas alunas a buscar dimensões menores era tão grande quanto o que elas mobilizavam para levantar as pesadas cargas na academia. “Algumas colegas recorriam a tudo para ter aquele coxão, o abdome de tanquinho: horas de exercícios, implantes de hormônios, enzimas”, diz a advogada Gabriele Parreira Lopes, de 30 anos, aluna de Maia.

 

Contrário a esse tipo de estratégia, o preparador diz que o resultado, além de muitas vezes esteticamente chocante, é perigoso. “A lista de efeitos colaterais é enorme, não vale a pena.”Os riscos para aquelas que querem aumentar de forma excessiva as medidas existem mesmo quando não se apela para o uso de hormônios. “As cargas excessivas, o treino muito longo pode provocar lesões”, diz.

 

Embora mais natural, o corpo definido também não é fácil de ser alcançado. “É preciso fazer exercícios certos, alimentar-se da maneira adequada”, diz Camargos. A psicóloga Carla Gomes conta que o investimento é de longo prazo. Depois de três gestações em menos de quatro anos, ela resolveu, em 2013, mudar a rotina, adotar um cardápio mais balanceado. “Essa retomada não foi muito difícil. Cresci num ambiente em que sabia que não podia comer tudo, o tempo todo. Sempre tive em mente a moderação, a busca pela saúde”, diz. A mudança, disse, veio aos poucos. “Quando as pessoas me perguntam hoje o que ando fazendo, digo: não é de hoje, não consegui do dia para noite”, diz.

 

Tanto Camargos quanto Maia afirmam que o mais importante é o bem estar sem ter um modelo de corpo em mente. “Não importa se quadril é largo, se a perna é assim ou assado. O importante é trabalhar de forma que tudo fique bem, saudável, harmonioso”, avalia o nutricionista.

 

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