terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Nutricionista faz alerta ao auso indiscriminado de canetas emagrecedoras; Sarcopenia

A próxima epidemia silenciosa: A sarcopenia é definida como a perda progressiva de massa magra esquelética associada à diminuição da força e do desempenho físico

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Giovana Colletti  (*) 

A sarcopenia é definida como a perda progressiva de massa magra esquelética associada à diminuição da força e do desempenho físico, tradicionalmente vinculada ao envelhecimento, ela representa um marcador importante de fragilidade, comprometimento metabólico e vulnerabilidade funcional.

A partir de 2019, com a consolidação do consenso europeu (EWGSOP2), a definição científica passou a enfatizar não apenas a quantidade de massa muscular, mas também sua qualidade e capacidade de gerar força.

Assim, a sarcopenia deixou de ser considerada apenas uma desordem própria da terceira idade e passou a ser entendida como um processo multifatorial, potencializado por condições clínicas, deficiências nutricionais, sedentarismo e perdas acentuadas de peso.

No contexto do emagrecimento medicamentoso acelerado, os indicadores associados à sarcopenia começam a se manifestar em indivíduos que não apresentam histórico de fragilidade, isso ocorre porque os agonistas de GLP-1 reduzem o apetite de forma expressiva levando a uma ingestão calórica muito inferior ao habitual.

Ao encontrar uma população que já consome proteínas abaixo do recomendado, essa redução adicional intensifica o risco de balanço nitrogenado negativo, reduzindo a capacidade do organismo de manter síntese proteica adequada.

O corpo, submetido a um déficit energético abrupto, tende a priorizar a utilização de aminoácidos provenientes da musculatura esquelética para suprir necessidades metabólicas imediatas, gerando catabolismo muscular.

Estudos clínicos observacionais e controlados vem demonstrando que uma proporção relevante da perda de peso promovida por semaglutida e tirzepatida ocorre às custas de massa magra.

Ensaios publicados entre 2021 e 2024 indicam que entre 25% e 40% da perda total pode corresponder a tecido muscular, especialmente quando o indivíduo não está engajado em práticas regulares de treinamento resistido.

Embora seja verdade que qualquer processo de emagrecimento induz certa perda muscular, o que se observa nesses casos é uma magnitude desproporcional que é resultado direto da combinação entre ingestão proteica insuficiente, redução espontânea da fome e ausência de estímulo mecânico.

A perda muscular produz efeitos sistêmicos importantes. A redução da massa magra diminui a taxa metabólica basal, tornando o corpo mais propenso ao reganho de peso após a suspensão do medicamento.

O músculo esquelético desempenha papel central na captação de glicose estimulada por insulina; portanto, sua diminuição reduz a sensibilidade tecidual e favorece a instalação de distúrbios metabólicos.

Ademais, a perda de força e de funcionalidade afeta mobilidade, estabilidade postural e capacidade de realizar atividades diárias, abrindo espaço para um cenário de fragilidade precoce, antes raro em adultos jovens.

RECOMPOSIÇÃO ADVERSA

Outro ponto crítico refere-se ao fenômeno conhecido como “recomposição adversa”, acontece que quando a medicação é interrompida o peso corporal geralmente retorna, mas de forma predominante como gordura e não como massa muscular. Isso cria uma condição metabólica mais perigosa do que aquela existente antes do tratamento, pois a relação entre massa magra e gordura corporal se torna ainda mais desfavorável.

Esse padrão já é reconhecido como um dos gatilhos para o desenvolvimento de obesidade sarcopênica, condição em que coexistem perda muscular e acúmulo de tecido adiposo, com impactos significativos sobre risco cardiovascular, resistência insulínica e inflamação crônica.

Sob a perspectiva nutricional, esses achados reforçam a necessidade de que nenhum tratamento farmacológico para emagrecimento ocorra de forma isolada. A preservação da massa muscular depende de ingestão proteica adequada, estímulo consistente e planejamento alimentar que evite déficits extremos.

No consultório, é comum observar que indivíduos que utilizam canetas emagrecedoras deixam de sentir fome ao ponto de negligenciar refeições inteiras, reduzindo tanto calorias quanto micronutrientes essenciais para síntese proteica, metabolismo energético e manutenção da saúde óssea. O músculo, nesse contexto bioquímico desfavorável, torna-se um dos primeiros tecidos a sofrer desgaste.

A atuação profissional se torna decisiva. A abordagem nutricional deve garantir que o paciente atinja aporte proteico mínimo compatível com a preservação muscular e, quando necessário, suplementação pode ser empregada como estratégia adicional.

O acompanhamento da avaliação da composição corporal é fundamental para diferenciar perda de gordura de perda de massa magra, orientando ajustes no plano alimentar, a integração com profissionais de educação física também se torna essencial, já que o treinamento resistido é a intervenção mais eficaz para sinalizar ao músculo que ele deve ser mantido, mesmo em condições de déficit energético.

Assim, o uso de agonistas de GLP-1 não deve ser demonizado, mas precisa ser compreendido dentro de seu escopo clínico correto. Quando utilizado com acompanhamento multiprofissional e planejamento nutricional rigoroso, o medicamento pode auxiliar na melhora da saúde metabólica.

No entanto, quando empregado de forma indiscriminada, com fins puramente estéticos e sem suporte técnico, abre espaço para uma série de consequências que contradizem a própria intenção do tratamento: o indivíduo perde peso, mas perde saúde no processo.

(*) Nutricionista – – Pós-graduada em Nutrição Estética, Esportiva e Saúde da Mulher