Assessoria

Mais do que formar jovens e adultos, a Universidade Federal da Grande Dourados entende que seu papel é produzir conhecimento que contribua com a sociedade. Por isso, muitos técnicos-administrativos, docentes e estudantes da UFGD participam de atividades sociais e de outras instituições públicas, entre elas o COMAD (Conselho Municipal Antidrogas de Dourados).
Nesta semana, o COMAD está realizando seu 1º Seminário de sensibilização da sociedade com relação ao uso abusivo de álcool e outras drogas. Dois professores da UFGD contribuíram palestrando no evento, trazendo dados de pesquisas científicas na área de neurociência, tratamento psiquiátrico, direito e ciências sociais.
O coordenador do curso de Medicina da UFGD, professor Thiago Paulizi Justino, apresentou informações sobre o funcionamento do cérebro da pessoa que tem algum tipo de vício. Ele explicou que o cérebro humano vai mudando ao longo da vida, mas que as drogas causam mudanças agressivas no funcionamento desse órgão vital. Estudos mostram que os usuários de crack e cocaína apresentam o funcionamento do cérebro comprometido pela droga mesmo após 3 a 6 meses sem fazer uso.
Thiago apresentou dados de pesquisas da área de neurobiologia para explicar como funciona o mecanismo cerebral que causa dependência. Segundo o professor, vários fatores podem determinar se uma pessoa será ou não adicta em relação às drogas que venha experimentar. A família é uma fonte de influência tanto pelo ambiente e exemplo de comportamento que oferecem aos filhos, como pela carga genética, que é alterada pela droga. O ambiente social e até mesmo a alimentação são fatores que podem influenciar o usuário de drogas a se tornar dependente químico.
“A adicção acontece em uma combinação de fatores, não podemos determinar previamente quem será adicto ou não. A pessoa pode nascer com uma carga genética propensa, e passar a vida toda sem vício algum. Por outro lado, temos pacientes que tem um quadro social, psicológico e físico que teria tudo pra dar errado e no entanto eles se recuperam. Nunca podemos perder a esperança. O que posso afirmar é que um tratamento de abordagem generalista não funciona. O tratamento tem que ser dinâmico e individualizado, cada pessoa, em cada fase do tratamento, tem necessidades diferentes, não podemos estabelecer um protocolo padrão”, detalhou Thiago.
Ele ainda enfatizou que o sistema de saúde precisa avançar bastante, especialmente no sentido de providenciar leitos de internação para dependentes químicos que queiram se tratar. Ainda, é necessário investir na formação de equipes multiprofissionais, contemplando terapia ocupacional, psicologia, assistência social, médicos clínicos, psiquiatras, e infectologistas.
Questão social
O professor Marcelo Campos, docente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFGD, apresentou dados de pesquisas nacionais que apontam para a ineficácia das políticas de combate a drogas brasileiras.
Um dos problemas apontados por Marcelo é o fato de a lei nacional anti-drogas, estabelecida em 2004, não ter um critério para distinguir quem é usuário e quem é traficante. Comparando dados do Brasil e de outros países, e ainda fazendo uma análise do número de prisões efetuadas de 2004 a 2009 na cidade de São Paulo, Marcelo demonstra que muitas vezes a pessoa que é enquadrada como traficante não foi encontrada com uma quantidade grande de drogas. No entanto, aqueles que são enquadrados por tráfico apresentam um perfil social padrão: quanto menos escolarizado, quanto mais periférico for seu local de moradia, mais chance a pessoa tem de ser considerado traficante e não usuário pela polícia e pelo sistema de Justiça.
Conforme Marcelo, o governo brasileiro ainda centra foco em políticas de criminalização das drogas. O resultado é o aumento da população carcerária, mas com impacto ínfimo na redução de consumo e comercialização de drogas ilícitas. A solução seria se inspirar em outros países, onde as políticas de prevenção ao uso de drogas e redução de danos são reforçadas.
“A questão da droga veio sendo narrada pelo discurso médico e pelo discurso jurídico, que reforçaram esteriótipos: o tratamento que se dá à questão da droga ou é um caso de doença ou é um caso de polícia. E a lógica é que, sendo um doente ou um criminoso, essa pessoa que consome droga deve ser excluída da sociedade. Ao passar por instituições que o tratam como doente ou criminoso essa pessoa fica estigmatizada, mesmo depois que sai do tratamento ou da prisão. São vidas desperdiçadas pelo estigma. A questão da droga vai além de um caso médico ou de polícia, é um caso social complexo e deve ser tratado como tal”, defendeu Marcelo.