Diário MS

O Gamp (Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública), contratado pelo governador Reinaldo Azambuja por R$ 42 milhões para administrar o Hospital Regional de Cirurgias da Grande Dourados ficou mais famoso pelos problemas que gerou do que pela eficiência na gestão da UPA (Unidade de Pronto Atendimento), de quatro Unidades Básicas de Saúde, do HU (Hospital Universitário) e do Hospital Pronto Socorro do município de Canoas, no Rio Grande do Sul.
Menos de um ano após a assinatura do contrato de quase R$ 1 bilhão com a Prefeitura de Canoas, o Gamp já estava sob auditoria do município; já havia perdido a gestão de unidades; já respondia ação de bloqueio de recursos pelo Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul e já estava sendo investigado pelo Ministério Público gaúcho.
Em Mato Grosso do Sul, os membros do Ministério Público terão muito serviço com a chegada do Gamp ao estado, sobretudo em Dourados onde a organização social promete realizar até 220 procedimentos cirúrgicos por mês em sete especialidades médicas.
Depois de ter sido inaugurado para ser fechado logo em seguida, o Hospital Regional de Cirurgias de Dourados deve abrir as portas nos próximos dias com 27 leitos para cirurgias nas áreas de urologia, ortopedia, ginecologia, otorrinolaringologia, oftalmologia e cirurgia geral. A unidade também promete realizar exames de raio-x, eletrocardiograma, ultrassom, endoscopia e colonoscopia.
Promessas do Gamp
De passagem por Dourados, a controller nacional do Grupo Gamp, Michele Aparecida Câmara Rosin, afirmou que a OS (organização social) se destaca nas localidades onde atua em razão da gestão transparente e capacidade de administração de equipamentos de saúde e recursos públicos com responsabilidade e dentro da lei.
Composto como organização social sem fins lucrativos, condição que lhe permite contratar funcionários com carteira assinada e também comprar equipamentos e medicamentos sem abrir processo de licitação, o Gamp foi efetivado em dezembro de 2016 pela Prefeitura de Canoas por meio de um contrato de cerca de R$ 1 bilhão e com cinco anos de vigência. Contudo, antes de completar o primeiro aniversário do contrato, o Gamp já colecionava problemas.
Auditoria
A auditoria apontou que o Gamp, que agora chega a MS com promessa de transparência na gestão, tentou sacar dinheiro destinado à saúde de Canoas para pagar alugueis de salas comerciais em São Paulo, onde funciona a sede da organização social.
Além do valor dos alugueis, foram bloqueados os pagamentos de outras despesas que somaram R$ 6 milhões, ou seja, é muito provável que alguém tenha caído no canto da sereia ao contratar o tal Gamp para atuar em Mato Grosso do Sul.
A auditoria da Prefeitura de Canos encontrou, ainda, distorções salariais no Gamp, onde a mesma função tinha até três tipos de salários. Por exemplo: uma secretária recebia R$ 4 mil, enquanto outra tinha vencimentos mensais de R$ 7 mil e uma terceira era remunerada em R$ 2 mil mensais.
O resultado da má gestão é que em outubro de 2017, menos de um ano após assumir o contrato em Canoas, o Gamp perdeu para o Instituto de Saúde e Educação Vida (Isev) a administração do Hospital de Pronto Socorro e das UPAs Caçapava e Rio Branco.
Em outra frente, o Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul (Sergs) apontou sucessivos atrasos salariais e falta de depósito do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) dos trabalhadores.
A dívida com o FGTS atingiu a soma de R$ 10 milhões e acabou parcelada pelo Gamp. Como calote pouco é bobagem, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) ingressou com ação na 3ª Vara do Trabalho de Canoas pedindo o bloqueio de R$ 10,4 milhões das contas bancárias do Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública para quitar salários atrasados dos médicos.