João Pires
Primeiro vocalista da banda gospel Oficina G-3, pastor Luciano Manga, 56 anos, falou com exclusividade ao Estado Notícias nesta segunda-feira (12) pela manhã, no Alphonsus Hotel, onde esteve hospedado durante o final de semana, período em que participou do Congresso de Carnaval na IPI (Igreja Presbiteriana Independente), em Dourados. Na entrevista, ele relata experiencias em que vivenciou na banda e no mundo gospel e ainda sobre o quadro político atual. Confira:
EN – Como surgiu o apelido ‘Manga’?
MANGA – Minha mãe me vestiu com a manga da camisa maior do que todas as camisas das outras crianças. Então um ‘gaiato’ olhou e disse: “olha a manga desse moleque”. Dai pegou… Dizem que seria bulling se fosse hoje [risos]
EN- Hoje você faz parte do Vineyard. O que mais te chamou atenção neste ministério?
MANGA – Eu conheci o movimento do Vineyard em 1998. Foi através de amigos norte americanos que tinham a ideia de implantar a igreja no Brasil e me envolvi com este projeto. Na verdade o que mais me chamou atenção do ministério Vineyard no Brasil foram as canções, que se tornaram muito mais conhecidas até hoje do que as igrejas da Vineyard, principalmente no aspecto da adoração. Isto é fruto de relacionamento, onde me envolvi fui convidado à implantar igrejas no Rio de Janeiro e é o que venho fazendo desde então.
EN – Já esteve em Dourados outras vezes?
MANGA – Se não me engano já é quarta vez que estive aqui em Dourados. Também já fizemos show com Oficina G3 em Campo Grande e Naviraí. Já em 1996 a banda veio em Dourados e por alguma questão eu não pude vir.
EN- Qual a sua impressão da cidade?
MANGA – Dourados é uma cidade extremamente hospitaleira, as pessoas são agradáveis e gentis. E vocês comem para caramba! [risos] Aqui eu vi a picanha mais bonita da minha vida [risos].
EN – Gostou do nosso tereré?
MANGA – Gostei muito do tereré. Ainda mais que fizeram um tereré pra mim sofisticado, com gengibre e limão.
EN- O que motivou sua saída da Oficina G-3?
MANGA – Na época eu estava pastoreando no Rio de Janeiro e eles (integrantes da banda) em São Paulo e neste período fui enviado ao RJ para implantar igrejas. Daí ficou difícil para conciliar na questão de pastorear, aconselhar pessoas, fora outros compromissos que eu tinha com a igreja e ainda conciliar os ensaios, pois eu tinha que ir em São Paulo para ensaiar. Isso ficou muito pesado, a logística ficou muito complicada. Então eu disse para eles: “não vai dar”. Na época também existia uma certa pressão da denominação para o projeto que estava acontencendo no RJ e tinha que ter uma dedicação maior. Não tinha realmente condições de fazer as duas coisas. Ficou inviável.
EN – Foi difícil essa ruptura com a banda?
MANGA – Foi muito difícil, pois era algo que eu gostava demais e também foi no período que a Oficina estava vivendo seu melhor momento. Tinha acabado de lançar o CD “Indiferença” e a gente ainda estava fazendo as canções que para mim foi o melhor trabalho da Oficina G-3. E também estavamos na iminência de gravar um novo CD. Então você imagina não poder participar daquilo que a gente pensou junto…
EN- O que fica desta época de Oficina G-3?
MANGA- Fica a amizade e fica as lembranças da diversão, pois eu me diverti muito… Como eu me diverti, meu Deus! A gente ria o tempo todo e satirizava o outro o tempo todo. Qualquer coisa que um fazia já era motivo da gente satirizar. Era uma família, um momento muito importante na minha vida. Agora fica a lembrança também dos eventos, dos lugares que acabaram se tornando muito significativos e que marcaram muito a nossa presença e aquilo que aconteceu ali.
EN- Por exemplo?
MANGA – Tinha um evento que era feito na cidade de Vitória em uma rua chamada Rua da Lama, que eram eventos de rock roll, porém, não evangélicos. E nos convidaram para tocar neste evento, onde diria que 90% das pessoas não eram evangélicas. Então, eu diria que foi um marco! A Oficina tinha um marco, pois nós tocávamos e parávamos para transmitir a mensagem do evangelho e, era nesse momento que as pessoas eram tocadas, nós oravamos com as pessoas e, lógico, tem a ação sobrenatural de Deus e vidas foram realmente tocadas. Nós tivemos muitos testemunhos e muitas respostas extremamente positivas deste evento da Rua da Lama, que não era um evento de cunho evangélico. Me marcou bastante.
EN – Por falar em eventos, em seu livro você relata um dos principais eventos evangelísticos da década de 90, o “SOS da Vida”, promovido pela igreja Renascer em Cristo, onde reunia mais de 120 mil pessoas, como exemplo em 1994, no estádio Pacaembú, em SP. Daquela época para cá, o que mudou?
MANGA- Eu acho que mudou a proposta ministerial. As pessoas faziam eventos por uma questão mesmo de proclamação do evangelho. E o SOS da Vida tinha essa propósta de proclamar o evangelho.
EN – O público mudou ou o gospel mudou?
MANGA – Eu acho que o gospel mudou. As pessoas deveriam entender que existe uma ferramenta que Deus nos deu que é a música! E você pode usá-la em prol da evangelização. Também é preciso saber como usa-lá e pensar em novas estratégias de como fazer que esta música alcance o coração de quem não conhece o evangelho. É por ai…
EN – Em que o casal Hernandes, líderes da igreja Renascer em Cristo acertou?
MANGA – Eles acertaram no foco, no comprometimento e na missão. Havia sim um desejo estrondoso de proclamar o evangelho, de trazer novas propostas e quebrar alguns paradigmas, que na verdade eram regras meramente humanas que não levavam as pessoas a lugar nenhum. Então estes tabus de uma certa forma foram quebrados. Daí sim tem o seu valor a Renascer.
EN- E onde foi que errou?
MANGA – Eu acredito que a Renascer foi crescendo e desfocou um pouco desta proposta, abrançando umas outras propostas teológicas, quem sabe a da “prosperidade” que hoje tem uma enfase muito forte em algumas denominações e, lógico, você vai para outro foco e você vai trabalhar tentando atingir um outro público. Essa é minha reflexão.
EN – Muitas bandas daquela época sairam do cenário da música gospel e outras simplesmente acabaram. Isso se deve a que?
MANGA – Para você dar continuidade é muito difícil. As pessoas vão se casando, tendo filhos, envelhecendo… Daí tem o momento que você tem que fazer um projeto de vida: “Eu quero viver de música o resto da vida?”. Pois muitas vezes você não tem tempo para estudar e para pensar em uma outra profissão. Por isso que alguns integrantes vão assumindo um outro lado e buscando uma outra função profissional para não viver só de música. Eu acabo vendo que algumas bandas vão terminando por causa disso, naturalmente.
EN – Incluindo a Oficina G-3?
MANGA – Já a Oficina esta completando agora 30 anos né. Então eles vão fazer um período sabático para eles refletirem o que irão fazer. Eu acho que tem a ver com isso. E agora?…. Você tem que olhar para frente, eles vão viver mais 20 anos juntos? A idade chegando, os filhos crescendo, alguns tentando uma Universidade, como que fica isso?.
EN – A amizade com os integrantes da banda continua?
MANGA – Nós tivemos um encontro em dezembro de 2017, que foi esta despedida do Oficina G-3, onde reuniu todo mundo. Foi memorável, marcante. Nos reecontrarmos novamente, incluindo musicos que fizeram parte da Oficina, bateristas, guitarristas… Veio o Luff, que é o Luís Fernando que está morando na Califórnia, o Valtão veio, o Tulio Regis…
EN – Sobre a IPI de Dourados, gostou do final de semana com a igreja?
MANGA – Gostei muito! Achei uma igreja com uma visão muito conteporânea, acolhedora e que está se preocupando com famílias, adolescentes e jovens. Se tem um grupo que a gente tem que ter um olhar muito carinhoso e preocupante são com os adolescentes. Acho que a gente tem que investir muito, pois são eles que vão dar continuidade. Tem que ter uma enfase forte neste seguimento.
EN – O Brasil vai dar certo?
MANGA – Esta é pergunta que não é dificil responder, até mesmo porque existem muitos pré-candidatos por ai. Mas eu tenho dificuldade de ver um candidato hoje apropriado para o momento brasileiro. Porém, há muitos candidatos que ainda não mostraram a sua cara né. Recentemente vimos ai a questão do Luciano Hulk, que não tem nada no aspecto político, onde temos um personagem diferente. Você vai ter o Bolsonaro que é uma outra proposta diferenciada desde então. Você pode ter o Fernando Collor retornando. Pode ter o Lula. Pode vir uma Marina e também pode vir um Ciro Gomes, que no quesito vida política eu diria que é um camarada que tem know how. Ele foi governador do Ceará e vejo nele alguém que tem bagagem política.
EN – Quais nomes ainda poderiam surgir?
MANGA – Outros nomes, como o Alckmin, quem sabe… Então, essa febre de Bolsonaro na hora que aparecer os nomes isso pode diminuir. Essa febre pode passar!
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