terça-feira, 30 de abril de 2024

Moro escolhe ‘ladrão’ de rachadinha e se deixa usar

Após igualar 'petrolão' do PT e suspeitas de corrupção ligadas a Bolsonaro e sua família, ex-ministro se deixa usar pelo atual presidente mesmo tendo dito – em fevereiro deste ano – que não escolheria lado numa disputa Lula x Bolsonaro

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O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), foi a debate em televisão acompanhado do ex-ministro da Justiça e senador eleito, Sergio Moro (União Brasil) — Foto: Mariana Greif/Reuters

A escalação de Sergio Moro (União Brasil) repete a tática de Jair Bolsonaro (PL) de colocar entre ele e Lula (PT) um personagem para provocar o adversário em temas considerados sensíveis: no debate da Globo, foi Padre Kelmon (PTB) e religião. No da Band neste domingo, escalou Moro por conta de corrupção.

A ideia usada pela campanha do atual presidente partiu do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que procurou Moro. O ex-juiz da Lava-Jato topou e, ao ser perguntado pelo blog do porquê foi até o debate, disse que achou que seria “útil’ no embate contra o petista.

Aliados dizem que Moro tem repetido a Bolsonaro que ele não é mais juiz e, sim, um político.

Mais uma vez, Bolsonaro usa Moro – e Moro se deixa usar. Mas por quê? Já que, passados quatro anos, Moro e Bolsonaro não tiveram um simples desentendimento como querem fazer parecer, agora.

Moro acusou Bolsonaro de interferir em investigações da PF para proteger seus filhos e amigos. Além disso, chamou o presidente de ladrão, afirmou que, se deixarem investigar, vão achar “muita coisa” no governo Bolsonaro, e disse que as pessoas da família do presidente – como Carlos – são “irrelevantes, totalmente irrelevantes.”

Mas, ao comparecer ao debate, Moro fez o que dizia que não faria – em fevereiro deste ano, quando ainda brigava para ser o candidato da terceira via: escolheu lado. E o lado escolhido foi o do “ladrão” da rachadinha, como ele próprio definiu em postagem no Twitter.

Por que não ficar neutro, então? Moro diz que “tentou construir uma terceira via, mas não deu”.

E repete que “Lula é inaceitável”, mas não avança em seus motivos. Apenas diz que não teria como explicar para sua família que condenou o ex-presidente e não se posicionou numa disputa entre ele e Bolsonaro.

Moro também não consegue explicar como fica o inquérito no STF que está aberto por acusação sua de que Bolsonaro cometeu um crime ao interferir na Polícia Federal. Ao deixar o governo Bolsonaro, Moro destacou em sua coletiva que a Lava Jato só conseguiu investigar a corrupção na Petrobras porque o governo Dilma deu autonomia para a PF.

Mas o ex-juiz desconversa sobre a investigação no STF. Diz que “agora é uma questão de eleição” e vê como ‘golpe moral” se Lula ganhar a eleição. Já bolsonaristas, Centrão e petistas veem de outras formas a sua presença ao lado de Bolsonaro.

No Centrão, a adesão de Moro à campanha de Bolsonaro como coach é vista como um novo reposicionamento de carreira de Moro. Na verdade, tenta retomar um antigo objetivo: criar condições para que, se Bolsonaro for reeleito, ele figure entre candidatos para ocupar uma vaga no STF (não se sabe se em um STF com 11 ou 16 ministros, como cogita o governo).

Bolsonaro já chegou a dizer que esse era o grande objetivo e acordo com Moro – o que ele nega.

Perguntado sobre o Supremo Tribunal Federal, Moro nega – assim como negava que seria candidato à Presidência ou ao Senado (como conseguiu se candidatar nesta eleição).

No Centrão, a piada é que o bloco enquadrou Bolsonaro ao conseguir o controle do Orçamento Secreto e, com Moro na cadeira do Parlamento, o ex-juiz só iria para o STF se fosse enquadrado também: fizer “carta compromisso” e “beija-mão” com políticos de partidos que colocou na cadeia – e com quem, agora, fez carreira. O PP, de Ciro Nogueira, por exemplo, foi um dos partidos mais investigados na operação que lançou Moro à fama.

No domingo, Moro estava lado a lado não só com Ciro – mas, também, na caravana do Team Bolsonaro com Frederick Wassef, que abrigou o pivô do escândalo da rachadinha em sua casa: Fabricio Queiroz. A rachadinha que, no passado recente (janeiro deste ano), foi motivo para Moro atacar Bolsonaro.

“Vamos dar uma sugestão para o Bolsonaro: vamos pedir para ele abrir as contas lá do gabinete parlamentar dele, do filho dele, lá do Queiroz… Você tem uma mansão lá no Paranoá?”, desafiou Moro, em live transmitida para dar explicações sobre seus ganhos com uma consultoria privada que tinha entre seus clientes alvos da Lava Jato.

No PT, a reconciliação de Moro ao bolsonarismo é mais uma demonstração de que o ex-juiz sempre foi político e que pensa a longo prazo. Nesse caso, na visão de assessores de Lula, ao se colocar no campo bolsonarista, o ex-juiz pode disputar como futuro candidato à sucessão presidencial de Bolsonaro em 2026.

No próprio Planalto, Moro se coloca como sucessor presidencial em 2026 porque não tem nada a perder. Em eventual derrota na disputa presidencial, Moro voltaria ao Senado. “Mas, para conseguir isso, precisa que Bolsonaro ganhe”, diz um ministro do governo Bolsonaro.

Fonte: Portal G1

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